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Ecodidática

Turismo: desenvolver ou explorar

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Por Marta Melo

 

O turismo não é a redenção de um lugar, nem o maldito que chegou a ele (Luzia Coriolano).

 

O termo DESENVOLVER deriva-se do latim involvere e volvere. Seu significado, segundo o dicionário Houaiss, resulta em fazer aumentar ou aumentar a capacidade ou possibilidade de; fazer progredir ou progredir. Aprimorar o conhecimento; ampliar os valores morais e outros.

Desenvolver é estar apto para a próxima etapa, adquirir novos aprendizados, alcançar objetivos. É a fase em que o indivíduo se movimenta para além do estágio atual. Assim, o conceito de desenvolvimento pode estar relacionado a pessoas, coisas, situações e fenômenos de diversos tipos.

 

A palavra EXPLORAR deriva-se do latim explorāre. Seu significado passa por diferentes sinônimos, dentre estes: investigar para saber mais (pesquisar, descobrir, analisar); bem como pelo uso de outros termos associados, como tirar proveito de algo ou alguém (aproveitar-se, usar, utilizar, valer-se, prevalecer-se); e enganar, tirando vantagens (iludir, ludibriar, enrolar, engodar e outros).

O turismo é um campo de complexas inter-relações, reconhecido por um grupo como uma atividade de notável importância, como um importante instrumento para o desenvolvimento das regiões, e por oportunizar novos aprendizados e novas experiências.

Todavia, existe um grupo que cogita o turismo como campo de exploração dos bens naturais e culturais, priorizando lucro. Eles se apropriam e manobram o uso dos patrimônios apenas como recursos mercantis, e atuam fortemente apoiados em aspectos hegemônicos, em diferentes partes do mundo, provocando incontáveis danos socioculturais e ambientais, em razão de ações da exploração turística irresponsável (Silva-Melo e Melo, 2021). De modo geral, essa exploração visa atender à demanda de mercado apoiado no modo de produção vigente.

Quando o turismo é realizado por atores que focam na exploração dos bens naturais e culturais, pelo simples ato de quererem colonizá-los, ele tende a ser destrutivo e perverso para as cidades receptoras e seus patrimônios; e oportunamente para as pessoas (moradores, turistas, empresários). Visto que, esses exploradores atuam meramente na intenção de obterem proveitos de algo ou alguém, pois a prioridade é o lucro e a acumulação de riquezas.

Por vezes, esses fatores desencadeiam a turismofobia, que segundo Claudio Milano (2018), provoca a saturação e a pressão turística de diversas localidades. Em síntese, a turismofobia eclode quando um local ultrapassa a capacidade máxima de visitantes, e esse excesso provoca uma série de problemas para os moradores e para os próprios turistas.

Neste sentido, os impactos negativos do turismo oriundos desse desregramento, conforme Milano (2018), aborrecem os moradores, sobrecarregam a infraestrutura local, incitam a alta de aluguéis e de preços nos espaços que fazem parte da cadeia produtiva do turismo, como bares e restaurantes; e em uma relação de causa e efeito, acarretam danos sociais, ambientais e afrontam a cultura local. Além disso, contribuem para que as experiências turísticas, de modo geral, sejam negativas.

Muitos centros turísticos, e até mesmo localidades que estão em fase de descoberta, recebem um número crescente de turistas, gerando uma superexploração. Por esses fatores devem-se aplicar estratégias de gestão, e dentre os quais, o uso do modelo do ciclo de vida de destinos turísticos ou o TALC (Tourism Areas Life Cycles) proposto por Butler (1980). Este modelo permite caracterizar, analisar e compreender a situação da atividade turística em função do tempo e do número de turistas em um determinado local. Bem como comprovar se os limites e a capacidade de suporte dos espaços turísticos estão sendo considerados.

 

Para que a atividade turística não se resuma a impactos destrutivos, é necessário que essa prática seja executada em ações sustentáveis, e sobretudo não descuidar do uso adequado dos bens naturais, culturais e fatores sociais dos territórios receptores. Além disso, deve incentivar a sensibilização dos turistas para as demandas das populações locais.

Portanto, ao reconhecer que o turismo é um fenômeno social que gera inúmeras inter-relações, e por ser uma área de enorme potencial capaz de contribuir direta ou indiretamente para o desenvolvimento coletivo nos territórios, deve-se prezar pelo planejamento adequado dessa atividade e a inclusão de todas as partes interessadas, haja vista que essas ações contribuem para que o verdadeiro desenvolvimento se efetive em ações bem-sucedidas com base no princípio da valorização dos recursos locais e a repartição equânime dos benefícios oriundos desse desenvolvimento. Ressalta-se que o turismo que preza pelo desenvolvimento, não centraliza suas ações na exploração.

 

 

Referência:

BUTLER, R. W. The tourism area life cycle: Applications and modifications. Clevedon: Channel View, 1980.

MILANO, C. Overtourism, malestar social y turismofobia. Un debate controvertido. PASOS Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, v. 16 (3), p. 551-564, 2018.

SILVA-MELO, M. R.; MELO, G. A. P. Reflexões sobre o fazer turístico nos ambientes naturais. In. CHÁVEZ, E. S.; MORETTI, E. C.; (Orgs.). Apropriação e mercantilização da natureza na produção de territórios turísticos. Apropiación y comercialización de la naturaleza por la producción de territorios turísticos [livro eletrônico] Porto Alegre, RS: Totalbooks, 2021.

Como citar esta página:

SILVA-MELO, M. R. Turismo: desenvolver ou explorar. Ecodidática, Campo Grande, 17 de janeiro de 2022. Disponível em: https://ecodidatica.com.br/turismo-desenvolver-ou-explorar‎. ‎Acesso em: dd. mm. aaaa.

 

 

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