Por Marta Melo
O voluntariado está diretamente atrelado ao interesse pessoal de um determinado indivíduo e ao seu espírito cívico em dedicar parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades para o bem-estar social, conforme mencionado pela Organização das Nações Unidas.
O voluntário é o cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário, de acordo com o Conselho da Comunidade Solidária.
Quando decidimos nos voluntariar a diversas formas de atividades, e independente do tipo de voluntariado, não devemos ter uma vida centrada no “Eu”, mas expandir uma relação de benefícios centrados no “Outro”. Pois, segundo a escritora e poetisa Maya Angelou (1928 – 2014), as pessoas nunca esquecerão o que você as fez sentir.
No caso do voluntariado inclinado às práticas turísticas, compreende o interesse do viajante em compartilhar o seu tempo e habilidades em prol de experiências recíprocas que possam transformar positivamente todos os indivíduos envolvidos nessa vivência.
O volunturismo é um tipo de turismo que implica em ações altruístas e humanitárias que proporciona interações e transformações benéficas ao lugar e a diferentes grupos sociais.
“Viajar com um propósito” tornou-se o slogan de algumas agências especializadas em instigar o volunturismo e, em vista disso, determinadas empresas têm desvirtuado a proposta de um voluntariado autêntico. Neste sentido, em alguns casos, viajar como voluntário tem provocado impactos negativos.
Martín Caparrós, em um texto sobre o volunturismo, aponta o risco do turismo de voluntariado que movimenta milhões. E nesses riscos há uma conspiração de grupos que vendem a experiência customizada ao gosto do cliente. É um negócio com resultados duvidosos, menciona Caparrós (2018).
Nessa mesma direção, o estudo elaborado pela Edelman Brasil com o Panrotas, em 2018, revela que 10 milhões de viajantes já são adeptos da modalidade e que o turismo de voluntariado movimenta a economia em bilhões, mundialmente. O levantamento ainda indica, segundo Colaço (2018), que existe um grande potencial de mercado para conectar ações sociais com voluntários, mas também há o risco de pessoas virarem mercadoria nessa indústria.
Considerando o grande potencial de mercado do turismo e desse segmento de voluntariado, em especial, é inegável a percepção de que os movimentos e artifícios empregados na reprodução capitalista sobre o fazer turístico se rearranjam a cada dia. Incessantemente, o capitalismo usa estratégias para sair das crises inerentes à sua lógica; essa façanha nada mais é do que uma ferramenta para se retroalimentar (Martellotta, 2020). Em consequência, a ótica do mercantilismo se apropria de qualquer circunstância a fim de maximizar lucros e encontrar novas formas de acumulação, transformando ações humanitárias em mercadoria.
Vale ressaltar que o voluntariado genuíno inclinado às práticas turísticas deve se distanciar das relações impositivas mercantilistas. O turismo quando alicerçado em bases sustentáveis é capaz de viabilizar inúmeros benefícios caracterizados em ações valorosas no âmbito social, econômico, cultural, ambiental e cientifico.
O reflexo para causas sociais e transformações benéficas (indivíduos e lugares) só podem ocorrer efetivamente quando os diferentes atores que fazem parte deste processo possam internalizar com seriedade a proposta de um voluntariado autêntico, no qual deve ser o de encorajar pessoas a participarem das transformações positivas para uma sociedade mais edificante, e assim minimizar as desigualdades, visto que fazemos melhor quando fazemos juntos por um bem coletivo.
Referências:
UNV. UN Volunteers. Programa de Voluntários das Nações Unidas. Disponível em: www.unv.org
CAPARRÓS, M. El País. Volunturismo: o risco do turismo de voluntariado que movimenta milhões (2018). Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/11/eps/1544541087_701313.html
COLAÇO, J. Panrotas. Volunturismo: a tendência do engajamento nas viagens e vendas (2018). Disponível em: https://www.panrotas.com.br/gente/eventos/2018/04/volunturismo-a-tendencia-do-engajamento-nas-viagens-e-vendas_155026.html
MARTELLOTTA, A. Turismo, sustentabilidade e as transformações do capitalismo Pós 2020. Clube de Autores, 2020.
Como citar esta página:
SILVA-MELO, M. R. Ecodidática, Campo Grande, 17 de setembro de 2021. Disponível em: https://ecodidatica.com.br/volunturismo-ou-voluntariado-nas-praticas-turisticas. Acesso em: dd. mm. aaaa.
Imagem destacada: acervo Ecodidática